sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

NATAL - NASCIMENTO - RENOVAÇÃO

NATAL - A LUZ INTERIORIZADA
Nossa permissão pode fazer essa luz brilhar dentro de nós... o que pode nascer?
- O nosso livre arbítrio, a nossa vontade conduz o que vai dentro... o que pode florescer... mas não nos arroguemos sabedoria, pois sabemos muito pouco, na verdade somos reféns de algumas armadilhas emocionais e até mesmo inconscientes que fazem com que patinemos num lodo que parece interminável!
- A vontade - a força que direciona, que indica a luz!
- Assim sendo há de nascer em mim a força inquebrantável de realizar o meu propósito nesse tempo e espaço.
- Completei 48 anos ontem - véspera de Natal! Não tenho "neuras" com idade, penso que ela é reveladora de experiência e de como conduzimos nossa existência, nossa estampa deixa transparecer as marcas mesmo que indeléveis que deixamos com nosso percurso.
- Somo nesse tempo: amigos fiéis, parentes surpreendentes, alunos marcantes e que se transformaram debaixo do meu olhar, filhas que podem desconfiar quem sou e ainda precisam apreender-me como ser humano que não se conforma com fronteiras, com limites que limitam e entravam, com obscurantismos que cegam... cada um que passa comigo, não passa só e não sai de mãos vazias!
- Ainda verei nascer em mim o trabalho que devolve a esperança aos seres desanimados e desencorajados.
- Ainda verei fortalecida em mim a coragem de lutar contra a injustiça inrustida, disfarçada, dissimulada de ajuda.
- Ainda farei dos meus atos exemplos de enfrentamento e transformação.
- Ainda respirarei um sol de esperança para todos mesmo que pareça ilusório ou ingenuidade... é preciso mover-se nessa direção.
- Ainda viabilizarei com meu estudo - conhecimento e sabedoria.
- Ainda verei nascer a vitória dos justos sobre os ímpios.
... Assim Natal - nascimento - é todo esse potencial de fé, esperança que move para realização do que está em potencial em nós e nos que nos rodeiam...
... Quando desejamos feliz Natal - o desejo é desse florescer, dessa renovação... deixar o que não serve e tomar o novo com vontade de realizar.
Assim... um FELIZ NATAL EM MIM... é não perder o FAROL... a LUZ DIVINA que assinala o caminho... o verdadeiro caminhar... a busca incessante da VERDADE!
FELIZ NATAL para vocês - são votos desse caminhar pra dentro, abrir as portas que nos revelam a nós mesmos!
FELIZ NATAL...FELIZ NATAL...FELIZ NATAL...FELIZ NATAL...FELIZ NATAL!!!
Vania Longo 25/12/2009 - 19h55

domingo, 20 de dezembro de 2009

VIVO ESTÁS!

VIVO ESTÁS!
Hoje participei de uma cantata , coral, orquestra, muitos jovens louvando o Senhor!
Deparei-me com um sentimento que me acompanha desde criança: ao ver os filmes do sacrifício do Cristo... mesmo sabendo o final, torcia para que ele não fosse crucificado, que tudo fosse diferente do massacre pelo qual passou!
Refleti sobre o VIVO ESTÁS: ELE é o Filho do DEUS vivo, o sacrifício estava previsto nessa história, quanto ao morrer são outros quinhentos...
ELE VIVE, nós o mantemos vivo em nossos corações, sua história atravessou tempo e espaço e nos alcançou em pleno século 21, não é uma história qualquer, uma mentira não duraria tanto, não acham?!
Os hinos elevam nossos pensamentos: "É DEUS DE PERTO E NÃO DE LONGE, DEUS DE ALIANÇA, DEUS DE PROMESSA, DEUS QUE NÃO É HOMEM PARA MENTIR!
Querem maior esperança do que essa?
Reich escreveu um livro chamado O Assassinato de Cristo, a tese dele nessa obra é que matamos o Cristo em cada atitude, pois padecemos da "peste emocional", nosso emocional não é educado ao mesmo tempo que o intelecto, então guardamos milhares de informações e "formações" até científicas que em nada nos ajudam quando se trata de relacionamento humano...Infelizmente não existem escolas que façam o trabalho de educar essa parte de nosso ser... ou melhor, até existem mas são tão raras e difíceis de acessar que acabam por tornarem-se invisíveis. Contudo não podemos perder a esperança, deve haver um jeito, um meio, um caminho... eu não me canso de procurar... na igreja eles dizem que o Caminho é o Cristo, pois está escrito "Ninguém vem ao Pai se não por mim"... penso que devo acordá-lo dentro de mim, pois o verniz educacional em mim impregnado, dificulta o acesso ao DIVINO em mim, sei que ele mora em minha casa, mas os cômodos estão tão escuros que o me permitem achar a chave que abre a porta que dá para dentro!
Não vou desistir, tenho planos, dizem que ELE tem planos para mim, eu peço:
ME USA EM TUA OBRA SENHOR, POIS NÃO QUERO SER INÚTIL COMO A FIGUEIRA QUE ELE SECOU!
Vania Longo 21/12/2009 00h49

sábado, 19 de dezembro de 2009

ESCUTA ZÉ NINGUÉM MAIS CONTEMPORÂNEO DO QUE NUNCA

ESCUTA, ZÉ NINGUÉM! - WILHEM REICH
O livro Escuta, Zé Ninguém! Foi escrito por Reich um mestre da ciência do corpo atrelada à psiquê humana, em 1948, quando foi preso, por portar uma caixa acumuladora de energia orgone (de sua invenção), mas os adidos lhe pediram "nota fiscal", um mote da perseguição implacável que vinha sofrendo. O referido livro foi escrito na prisão, é contundente, revelador do caráter do "homem comum" "o funcionário padrão", que ao mesmo tempo carrega consigo a marca mais profunda do que Reich denomina "a peste emocional".
O texto continua novo e mais do que nunca aplicável aos nossos dias e seres que se dizem humanos.
Ganhei o livro em 1982 de um professor (quando cursava o 2º ano do curso de Psicologia) que alegou que as idéias e ideias nele expressos tinham sintonia com meu pensamento.
Naquela época, foi vibrante ler, pois além de identidade ideológica, ajudava-me expressar muita raiva por sentir-me impotente diante de tanta injustiça e impunidade que presenciava.
Toda vez que me vejo diante de algo que assola meus sentidos e é maior do que minhas forças podem alcançar, volto ao texto e lá encontro o alimento que subsidia a emoção avassaladora, nesta data, escolho o trecho que segue:
"(...) És assim, Zé Ninguém. Bom na acumulação e no discompêndio, mas incapaz de criar. E é por isso que és o que é, toda a vida fechado num escritório solitário ou agarrado ao estirador, preso no colete-de-forças conjugal, ou professor das crianças que odeias. Incapaz de progredir ou gerar algo de novo, porque és capaz de servir-te do que outros te oferecem em bandeja de prata.
Não entendes porque é assim, porque não pode ser doutra maneira? Eu digo-te, Zé Ninguém, porque eu aprendi a ver-te como o animal rígido que me trazia no seu vazio, na sua impotência, na sua doença mental. Só sabes sorver e apanhar, não sabes criar ou dar, porque a atitude básica do teu corpo é a retenção e o despeito; porque entras em pânico de que vez que sentes os impulsos primordiais do AMOR e da DÁDIVA. É por isso que tens medo de dar. A tua permanente avidez só tem um significado: és continuamente forçado a encher-te de dinheiro, de satisfações, de conhecimento porque te sentes vazio, esfomeado, infeliz, ignorante e temendo a sabedoria. É por isso que foges da verdade, Zé Ninguém - ela poderia fazer-te amar. Saberias então o que tento, inadequadamente, dizer-te. E isso tu não queres, Zé Ninguém. Só queres que te deixem em paz como consumidor e patriota.
"Oiçam isto! Este tipo nega o patriotismo, a base do Estado e do seu órgão fundamental, a família! Isto não pode ficar assim!"
É assim que gritas "aqui-d'el-rei" quando alguém te denuncia a prisão de ventre mental. Não queres nem ouvir nem saber, queres berrar "vivas". Mas porque não me deixas dizer-te por que razão é incapaz de alegria? Vejo-te o susto nos olhos - sente-se até que ponto o assunto te afecta profundamente. A "questão religiosa", por exemplo. Afirmas defender a "tolerância religiosa"; afirmas o teu direito à liberdade em matéria religiosa. Perfeito. Mas queres mais: queres que a tua religião seja a única. És intolerante quanto às outras. Ficas desesperado quando encontras alguém que, em vez de um Deus pessoal, adora a natureza e procura entendê-la. Preferes que os cônjuges em vias de separação se processem judicialmente, se acusem de imoralidade ou de brutalidade quando já não lhes é possível viver juntos. Tu, que és descendente de homens rebeldes, és incapaz de reconhecer o divórcio por mútuo consentimento - porque a tua própria obscenidade te assusta. Queres a verdade num espelho, algures onde não possas chegar-lhe. O teu "chauvinismo" decorre naturalmente da tua rigidez, da tua prisão de ventre mental, Zé Ninguém. E não digo com sarcasmo, porque te estimo, embora seja teu hábito esmagar os que te estimam e dizem a verdade. (...)
Desejas amar e ser amado, amas o teu trabalho e é dele que vives, e a base do teu trabalho é o meu conhecimento e o de outros. O amor, o trabalho e o conhecimento não tem pátria, não conhecem fronteiras nem uniformes. São internacionais, são o patrimônio da humanidade. Só que tu preferes o teu patriotismo medíocre, porque tens medo do amor genuíno, do trabalho responsável, medo do conhecimento. E por isso exploras o amor, o trabalho e o conhecimento dos outros, mas nunca poderás criar. Por isso usas a tua alegria como um ladrão furtivo, por isso não consegues suportar sem azedume e inveja a felicidade dos outros. (...)
És incapaz de me encarar quando me acusas de imoralidade. Porque sabes bem qual de nós é imoral, obsceno e pornográfico. (...)
Na tua estupidez obstinada julgas possuir o reino da liberdade. Hás-de acordar do teu pesadelo estendido de borco no chão. Porque roubas o que te dão e dás o que te roubam. Confundes o direito à liberdade de expressão e crítica com o comentário irresponsável e a graça parva. Desejas criticar, mas não queres ser criticado, o que te destrói. Queres poder atacar a coberto de qualquer ataque. É por isso que jogas na sombra."
Dedico esse pequeno texto, aos "superiores hierárquicos" - "identificados" em demasia com o poder - que até se esquecem que lidam com pessoas, pois tomam estas por sim mesmos - máquinas rígidas que são, que Alá se compadeça de suas almas, pois não são afeitos à reflexão em profundidade, sofrem de prisão de ventre e problemas intestinais, tamanha a retenção de energia e controle que pensam exercer sobre os outros... quem dera pudessem controlar ou acercarem-se de si mesmos!
Vania Longo - 19/12/2009 - 1h53 - Grandioso és TU que habitas na minha alegria e acolhe-me na tristeza!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ÑANDE REKO ARANDU - MEMÓRIA VIVA GUARANI

GWYRÁ MI (MORRO DE SAUDADE)
Hoje tive acesso a um CD com um coro de crianças guaranis cantando, sem palavras estou - o coração alegre, repleto de contentamento é o sentimento.
Segue a letra e a tradução da música do título acima:
GWYRÁ MI MINHÃ
GUVIXA NHEÊ
OMBOAJE VYVE
KOÊJU MA REXAVYVE
OVE OVE VE
JAVY JAVYARE
GWYRÁ TUKANJUÍ
OGWUE OGWEI
NHANDERU
NHANDERU
OEJA VAÊQUE
JARQUE
O PASSARINHO OBEDECE AO CHEFE
VOA ALEGRE AO NASCER DA MANHÃ
QUANDO NÓS ACORDAMOS
O PASSARINHO AMARELINHO
VOANDO DE ÁRVORE EM ÁRVORE
NHANDERU, NHANDERU QUE CRIOU
CONSIDERE ISTO.
Ouça e considere seu sentimento, tente traduzir, podemos chamar de simplicidade, inocência, dê o nome que der - é uma forma muito singela de chegar a DEUS!
Vania Longo 12/12/09 - sábado - 00h30.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

AREIA AREIA AREIA...AREIA QUE O MAR SACODE

AREIA
Título de uma música da Banda de Pau e Corda que fez sucesso na década de 70.
Eu participava de uma comunidade de jovens católicos na Vila Palmares - na Paróquia Nossa Senhora das Dores do Padre Rubens Chasseraux.
Um padre visionário, defensor da causa do pobre, chamava para si como faz até hoje a responsabilidade de "brigar" por eles, hoje ele tem 70 anos ou mais, mas continua lá, desafiando, cotucando a juventude, fazendo suas pregações contextualizadas e cheias de sabedoria e conhecimento da palavra. Emociona, pois ele retrata a imagem de tantos outros líderes que "lutam solitários", sofrem, desiludem-se, magoam-se, sentem-se abandonados, injustiçados, "traídos" pelo ideiais políticos partidário que tanto defenderam.
Mas aqui não vou dar espaço a tristeza, esse Padre arrebatava jovens corações com sua energia contagiante, levava para as missas de domingo às 18h00 - canções de Chico Buarque, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Mercedez Soza, Banda de Pau e Corda e nós encantados cantávamos a plenos pulmões e violões.
Fazia descidas pela Serra do Mar - Estrada Velha de Santos, ia visitar D. Pedro Casaldáglia no Rio Araguaia e vinha com histórias que eram verdadeiras lições de vida.
Vou registrar aqui a letra da música Areia da Banda de Pau e Corda, bendita internet que trás o passado sem muito esforço, um clic e aqui está o vídeo, a letra, a lembrança a saudade sendo minimamente aplacada:
AREIA
Banda de Pau e Corda
Morena, me diz morena
Pra onde é que você foi
Com esses olhos de preguiça
E essa voz que me tonteia
Ô morena deixa disso
Que eu não sou feito de areia
Areia, areia, areia, areia
Que o mar sacode a gente pisa
areia, areia
Morena, me diz morena
Porque não me olhas mais
Será que você não lembra
Dos momentos na casinha
Que eu vivia em teus braços
Que você inda era minha
Hoje eu vivo pensativo
E essa ausência me aperreia
Ô morena eu já lhe disse
Que eu não sou feito de areia
Ô morena o meu sangue
Quer correr em suas veias
Ô morena volte agora
Que eu não sou feito de areia
Areia, areia, areia
Areia que o mar sacode
A gente pisa areia, areia
E tem também
VIVÊNCIA
outra música memorável dessa banda:
Quem nasceu lá e viveu
Crescendo percebeu
O canto do ferreiro
Da casa do doutor
O velho mensageiro
Das cartas de amor
O homem e o vassourão
Limpando o chão da manhã
Sabe, crê e chora
Vive cada hora
No canto do ferreiro
Da casa do doutor
Quem nasceu lá e viveu
Crescendo percebeu
Viu descer o amor
No céu de cada tarde
Encontros nas esquinas
Corridos pra esconder
A moça e a canção
Deixando a graça para alguém
Sabe, crê e chora,
Vive cada hora
No encontro nas esquinas
nas tardes de amor
Quem nasceu lá e viveu
Crescendo percebeu
Os sinos da capela
Chamando pra rezar
As noites de domingo
As festas do lugar
As rodas de ciranda
E as cantigas de ninar
Sabe, crê e chora,
Vive cada hora
No sino da capela
Nas festas do lugar
Sabe, crê e chora,
Vive cada hora
Presente na lembrança
Ausente do lugar.
Mas o Rubão inda tá lá num ritirou-se não! Vá conferir!
Vania Longo 09/12/2009 - 1h29

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A MAGIA DA BOA MÚSICA

ELOMAR FIGUEIRA MELO
A última vez que vi Elomar eu tinha 18 anos, hoje estou com 47 e fui ao show dele no Sesc Pompéia, o mesmo toque de magia sucedeu-se em meu coração e não tive como conter as lágrimas. Apreciem essa música que segue, é uma verdadeira louvação:
CAMPO BRANCO
Campo branco minhas penas que pena secou
Todo bem que nóis tinha era a chuva era o amor
Num tem nada não nóis dois vai penano assim
Campo lindo ai que tempo ruim
Tu sem chuva e a tristeza em mim
Peço a Deus ao meu Deus grande Deus de Abraão
Pra arrancar as pena do meu coração
Dessa terra seca in ança e aflição
Todo bem é de Deus qui vem
Quem tem bem lôva a Deus seu bem
Quem não tem pede a Deus qui vem
Pela sombra do vale do ri Gavião
Os rebanhos esperam a trovoada chover
Num tem nada não também no meu coração
Vou tê relampo e trovão
Minh'alma vai florescer
Quando a amada e esperada trovoada chegá
Iantes da quadra as marrã vão tê
Sei qui inda vou vê marrã parí sem querer
Amanhã no amanhecer
Tardã mais sei que ter
Meu dia inda vai nascer
E esse tempo da vinda tá perto de vim
Sete casca aruêra cantaram pra mim
Tatarena vai rodá, vai botá fulô
Marela de u'a veis só
Prá ela de u'a veis só.
O autor traça um paralelo com seu estado de espírito e o estado físico da terra, do campo e faz uma promessa como que iluminado pelo Grande Deus de Abraão e de todos nós que cremos e louvamos ao Rei dos Reis... a promessa é frutificação, bênçãos, esperança, florescimento de tudo que é vivo e está em potencial.
Num tem nada não também no meu coração, relampo e trovão... meu coração está tão árido e seco quanto a terra, mas os raios que cortam os céus aquecerão meu coração e farão muito barulho, o trovão da alegria e da abundância da chuva promessa de vida a mim e à terra.
É simplesmente maravilhoso esse ser tocado pela Poeta Maior, que hoje ele mesmo reconheceu: todos os poetas têm licença de criar sua pequena obra, pois a Grande obra, a Grande Poesia vêm do Rei dos Reis... Louvado Seja!
Obrigada senhor pela graça de ouvir esse cantor da caatinga que Você fez seu instrumento, pois ele toca fundo em nossa alma.
Vania Longo 04/12/2009 passa das Zero horas - já é 05/12.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

PAULO LEMINSKI - O POETA

As Frases Originais
Não fosse o Larrosa, denunciar que originalidade é discutível e o que denominamos "nosso" tem tanta influência alheia que se pensarmos bem, não é exclusivamente nosso é de muitos alguns que passaram em nossa vida. Já me arvoraria versar sobre a originalidade de Leminski...
Tenho um ponto de vista sobre isso: a mim soou original, pois "identifiquei-me" com ela = a frase:
"NÃO FOSSE ISSO E ERA MENOS
NÃO FOSSE TANTO E ERA QUASE"
Baixou a tendenciosidade: "não é maravilhosa?"
Pois bem, Se ISSO sou EU, não fosse o que estou e era menos, sim, pois agora nesse exato momento sou um pouco mais que no momento anterior.
O pouco mais, não significa necessariamente melhor, significa mais...
Se TANTO for traduzido por EXPECTATIVA, que geralmente esperamos além do que ocorre, presenciamos, constatamos.... se NÃO FOSSE TANTA EXPECTATIVA e era quase acontecimento, realidade, viável, possível...
Ora pois, quantas possibilidades dentro de nossa experiência podemos incluir aqui e analisar ao nosso gosto e moda?
É uma bela frase senhor Paulo Leminski!
Vania Longo - 03/12/09 - já é quinta-feira - 00h35.

sábado, 28 de novembro de 2009

RELAÇÕES FAMILIARES NA LITERATURA

Retomando os autores que tratam das relações Familiares, convido para o diálogo Fiódor Dostoiévski - um escritor russo em:
OS IRMÃOS KARAMÁZOV
Essa obra aborda a família Karamázov e a morte do pai por um dos filhos = parricídio.
Um dos irmãos é religioso e esse discurso ou apelo está muito presente na narrativa.
A psicanálise aborda o desejo da morte do pai pelo filho no complexo de édipo, tão explorado pelo senso comum (presente na novela global MANDALA, veiculada há um tempo atrás). É importante salientar que ao mesmo tempo que deseja a morte sente-se culpado, assim está instalado o conflito inconsciente. Que me perdoem os psicanalistas pela abordagem superficial, mas não é meu intuito aprofundar a questão.
A religião é utilizada para expiação dos pecados, aplacar as culpas, e às vezes penso que também a acirra, dependendo da religião e do religioso, ou seja da leitura que é feito das escrituras sagradas.
Vou destacar aqui um trecho da pág. 284 - Dentro do subtítulo: e) Do religioso russo e de seu possível papel:
"(...) Nada de admirar que os homens tenham encontrado sua servidão em lugar da liberdade, e que em lugar de servir à fraternidade e à união, tenham caído na desunião e na solidão, como mo dizia outrora meu visitante misterioso e mestre. De modo que a idéia do devotamento à humanidade, da fraternidade e da solidariedade desaparece gradualmente do mundo; na realidade, acolhem-na mesmo com derrisão, porque como desfazer-se de seus hábitos, onde irá aquele prisioneiro das necessidades inúmeras que ele próprio inventou? Na solidão, preocupa-se muito pouco com a coletividade. Afinal de contas, os bens materiais aumentaram e a alegria diminuiu.
Bem diferente é o caminho do religioso. Zombam da obediência, do jejum, da oração, entretanto é a única via que conduz à verdadeira liberdade; suprimo as necessidades supérfluas, domo e flagelo pela obediência minha vontade egoísta e orgulhosa, chego assim, com ajuda de Deus, à liberdade do espírito e com ela à alegria espiritual! Qual dentre eles é capaz de exaltar uma grande idéia, de pôr-se à serviço, o rico isolado ou o religioso liberto da tirania dos hábitos? Censura-se ao religioso o seu isolamento: 'Tu te retiraste para um mosteiro para cuidar de tua salvação, e desertastes a causa fraternal da humanidade'. Mas vejamos quem serve mais à fraternidade. Porque o isolamento está do lado deles e não do nosso, mas eles não o notam. Foi do nosso meio que saíram outrora os homens de ação do povo. Por que não será assim em nossos dias? Esses jejuadores e esses taciturnos mansos e humildes se erguerão para servir a uma nobre causa. É o povo quem salvará a Rússia. O mosteiro russo sempre esteve com o povo. Se o povo é isolado, nós também o somos. Ele partilha de nossa fé e um político incréu jamais fará nada na Rússia, seja embora sincero e genial.Lembrai-vos disso. O povo derrubará o ateu e a Rússia será unificada na ortodoxia. Preservai o povo e velai pelo seu coração. Instruí-o na paz. Eis vossa missão de religiosos, porque esse povo traz Deus em si.
Continuarei... 28/11/09 -23h07

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MENSAGENS NA REDE ANIMAIS VIOLENTADOS

O GOSTO MÓRBIDO DO HUMANO
Quando recebo mensagens com massacres, violência e agressividade, algo racional em mim entende que alguns se preocupam e intentam parar com atitudes tão hediondas, outro lado recepta e é afetado, pois é da ordem do afetivo, algo que não controlamos.
Por isso sabiamente os ensinamentos das tradições dizem que não devemos nos expor a cenas e ou filmes de violência, pois como humanos já tendemos grandemente ao pessimismo, não precisamos nenhuma dose suplementar desse alimento nocivo.
O sentimento que me afeta, causa um pesar e o corpo pesa, o pensamento fica lento, letárgico, fico com as imagens polulando minha mente por um bom tempo... e não canso de me perguntar - por que? Por que fazem, por que vemos, por que nos impressionamos...
Busco rebater a sensação, segundo a sabedoria da homeopatia, igual cura igual. Então procurei em Fernando Pessoa algo que aplacasse a morbidez:
"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim -
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos, nisto: estou tonto.
Afinal
Que vida afiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto...
Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto...
Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.
Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.
Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.
A tontura, a vertigem, o distanciar da consciência, o sono, o dormir... essas sensações são acionadas rapidamente diante da violência, do mórbido...
Então para quê ver?
Proponho um zoom no cérebro que busque o horizonte, não é negar a realidade, afinal o que é real?
Vania Longo - 27/11/09 - 23h34

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NÃO AOS E-MAILS COM ANIMAIS MALTRATADOS

PARA QUE MULTIPLICAR A DOR PELA REDE WWW?
Escrevi esse texto e o "perdi" com a queda de energia, lamentei, mas escrevi o texto que segue. Ao verificar os arquivos descobri que esse estava salvo em rascunho. Então temos duas leituras em dois momentos distintos sobre a mesma situação.

Sei que quem envia e-mail com animais em sofrimento, pode ter a intenção de "ajudar", mas deve haver outro jeito de parar com a barbárie...


Não vou aqui me arvorar em dar receitas, mas penso do alto dos meus 47 anos que o gosto mórbido pela dor e sofrimento é antigo e é mais humano do que gostaríamos ou pensamos.


Sei também que o negativo está impregnado principlamente na mente, nos pensamentos e é bem difícil nos desvencilharmos dele.


Não custa tentar... diga não, evite, substitua em você tudo que é tragado pela força da gravidade, é uma luta, mas quem disse que viver é fácil, viver como humano na excelência que guarda essa palavra então... nem se diga!


Esta página de hoje foi motivada por um e-mail que recebi com um cão nadando ensanguentado e os "humanos" fotografando, "registrando o momento" não sei para que nem por que!


O que fica em meu sentimento, um peso, um pesar, um desmantelo que causa déficit energético.


Busquei em Fernando Pessoa algo que pudesse aplacar essa sensação medonha:


"O sono que desce sobre mim,

O sono mental que desce fisicamente sobre mim,

O sono universal que desce individualmente sobre mim -

Esse sono

Parecerá aos outros o sono de dormir,

O sono da vontade de dormir,

O sono de ser sono.


Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:

É o sono da soma de todas as desilusões,

É o sono da síntese de todas as desesperanças,

É o sono de haver mundo comigo lá dentro

Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.


O sono que desce sobre mim

É contudo como todos os sonos.

O cansaço tem ao menos brandura,

O abatimento tem ao menos sossego,

A rendição é ao menos o fim do esforço,

O fim é ao menos o já não haver que esperar.


Há um som de abrir uma janela,

Viro indiferente a cabeça para a esquerda

Por sobre o ombro que a sente,

Olho pela janela entreaberta:

A rapariga do segundo andar de defronte

Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.

De quem?,

Pergunta a minha indiferença.

E tudo isso é sono.


Meu Deus, tanto sono!...

Estou tonto,

Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,

Ou de ambas as coisas.

O que sei é que estou tonto

E não sei se bem se me devo levantar da cadeira

Ou como me levantar dela.

Fiquemos, nisto: estou tonto.


Afinal!

Que vida fiz eu da vida?

Nada.

Tudo interstícios,

Tudo aproximações,

Tudo função do irregular e do absurdo,

Tudo nada.

É por isso que estou tonto...


Agora

Todas as manhãs me levanto

Tonto...


Sim, verdadeiramente tonto...

Sem saber em mim e meu nome,

Sem saber onde estou,

Sem saber o que fui,

Sem saber nada.


Mas se isto é assim, é assim.

Deixo-me estar na cadeira,

Estou tonto.

Bem, estou tonto.

Fico sentado

E tonto,

Sim, tonto

Tonto...

Tonto."
Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.
Vania Longo - 26/11/2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A SOMBRA E A PERCEPÇÃO NO CINEMA

OS MISTÉRIOS DO REAL E DO IMAGINÁRIO - EDGAR MORIN
Estou lendo O Cinema ou o Homem Imaginário de Edgar Morin, outro autor estupendo, não percam! O livro foi escrito em 1956 e vocês não imaginam a profundidade!
Vou transcrever um trecho da página 56 do Capítulo - Dificuldade e Gênio do Cinematógrafo:
"A visão cinematográfica ganha corpo a partir das sombras que se movem sobre o ecrã (quadro branco onde se projeta a imagem de um objeto - Dicionário Aurélio). A substancialização está, pois, directamente ligada à densidade, ou melhor, à a-densidade do não ser, do grande vácuo negativo da sombra. Se acrescentarmos que as condições de obscuridade, favoráveis à projeção, o são correlativamente à magia da sombra e, ao mesmo tempo, a uma certa descontracção para-onírica do espectador, há que concluir que o cinematógrafo se acha muito mais marcado pela sombra do que a fotografia. Ou esteve-o, pelo menos, até ao aparecimento da cor, se bem, mesmo depois, ainda hesite entre uma vida de sombra e uma vida de puro reflexo. É possível, digamos mesmo que não há dúvida, que o lado de reflexo irá finalmente acabar por se sobrepor ao da sombra. Mas, a despeito do enriquecimento trazido pela cor, a resistência do preto e branco é significativa (*Na altura em que Morin escreve, o preto e branco "resiste", sobretudo, por razões econômicas). Cinema a cores e cinema a preto e branco são, de resto, tão isótopos como isómeros um do outro. Tendo, pois, em conta as suas possibilidades cromáticas, o cinematógrafo veio inscrever-se na linha dos espetáculos de sombra, do Wayang javanês a Robertson (1763-1837). Compreende-se, assim, melhor o parentesco acima apontado: de caverna em caverna, desde as cavernas de Java, das cavernas dos mistérios helênicos, daquela outra, mítica, de Platão, até às salas escuras, surgem-nos sempre, animadas e fascinantes, as sombras fundamentais do universo dos duplos. (...)
(...) O operador filtra, canaliza ou espalha sombras e luzes, a fim de sobrecarregar ao máximo a imagem de potências afectivas: "ao vivo, o horror nunca é tão aterrador nem a beleza tão envolvente, como o horror e o encantamento que a sombra nos sugere" (Bela Balazs). Também, inversamente, o operador pode, apagando todos os vestígios de sombra, tornar radiantes a alma a espiritualidade dos rostos. É mesmo possível a sombra substituir-se, dentro dum certo limite, aos actores, e desempenhar o principal papel num filme. No limite contrário, aparece-nos a imagem dum universo que, perdidas as suas sombras, se acha, por isso mesmo, igualmente detentor da virtude qualitativa do duplo. A cor, sem lhe mudar a natureza estética, orienta a imagem sem sentido diferente: o que domina é a qualidade de reflexo. O cinema ganha em encantamento, mas perde em encanto."
No cinema como na vida, o jogo de luz e sombra, a imagem revelada no seu contrário, o encantamento ilusório vencendo o encanto do real. Arte ou vida? Arte e vida! É na completude dos extremos que se busca o caminho do meio do Zen, que pode levar à verdade o buscador!
Que assim seja!
Vania Longo 25/11/2009 - 00h49

A NUVEM DE CALÇAS - MAIACOVSKI

VLADÍMIR VLADÍMIROVICH MAIACOVSKI - O FABULOSO POETA RUSSO
A NUVEM DE CALÇAS
"Vosso pensamento
sonhado por cérebros amolecidos
obesos como lacaios
estirados em divãs sebosos
vou fustigar
com os farrapos sangrentos de meu coração
mordaz e atrevido
até fartar-me de burla.
Na alma não tenho um só cabelo branco.
Nenhuma ternura senil em mim.
Atroando pelo mundo
com voz potente vou
garboso
em meus vinte e dois anos.
Ó delicados!
Vós que pousais o amor sobre ternos violinos
ou, grosseiros, que o pousais sobre os metais!
Vós outros não podeis fazer como eu,
virar-vos do avesso
e ser todo lábios.
Vinde, aprendei!
Venha do salão, toda em batista,
a funcionária solene da liga angelical.
E aquela
que confiante
folheia o livro dos lábios
como a cozinheira o livro de receitas.
Se quiserdes
poderei enlouquecer de carne
ou então -
como um céu cambiando de tons -
serei, se quiserdes,
impecavelmente delicado.
Não serei um homem.
Serei
uma nuvem de calças.
Não creio que no mundo exista
uma Nice plena de florações!
De novo tenho que glorificar
homens cansados como um hospital,
mulheres tão gastas quanto um refrão." (...)
Só para dar um gostinho... o que direi eu? Toda mulher espera um homem tão delicado quanto uma NUVEM DE CALÇAS, que figura de linguagem inesquecível!
Ou ainda: Vós outros não podeis fazer como eu, virar-vos pelo avesso e ser todo lábios.
Que boca é essa (?), que homem é todo lábios (?), que voracidade! Freud diria que tremenda fixação na fase oral! Nós mulheres: que convite a beijos ardentes e corpos sedentos!
Basta de poeta russo, quase dois metros de homem que pode virar-se em lábios!
Vania Longo - 24/11/2009 - 19h19

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MIA COUTO - UMA DAS MELHORES EXPRESSÕES

Mia Couto - Uma das Melhores Expressões para o meu sentimento
"O coração é como árvore - onde quiser volta a nascer."
(Adaptação de um provérbio moçambicano p. 111)
"De que vale ter voz
se só quando falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?"
(Versos do menino que fazia versos - p.131)
A infinita fiadeira
(A aranha ateia diz ao aranho na teia: o nosso amor está por um fio)
"A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabada as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs.
E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções.
Para a mãe aranha aquilo não passava de mau senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação de sua espécie.
- Não faço teias por instinto.
- Então faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, o engenho de sua seda. Os pais, após concertação, a mandaram chamar. A mãe:
- Minha filha, quando é que assentas as patas na parede?
E o pai:
- Já eu me vejo em palpos de mim...
Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse:
- Estamos recebendo queixas do aranhal.
- O que é que dizem mãe?
- Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas.
Até que decidiram: a jovem aranha tinha que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Aquele devaneio seria causado por falta de namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito. E organizaram um amoroso encontro.
- Vai ver que custa menos engolir mosca - disse a mãe.
E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o singelo namorador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram-se os apêndices e dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fabricava a brisa?
A aranhiça levou o namorado a visitar a sua coleção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova de seu amor.
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime. Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já transfigurada, se apresentou ao mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um mais-velho, se lembrou. Que houvera um tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e aos poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos - chamados de obras de arte - tinha sido geneticamente transmutados em bichos. Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece."
Pergunto: - Em qual teia me teci? De que sou feita? Qual é o meu lugar? Será transitar entre os mundos?
Qualquer hora dessas tecerei a arte de analisar esse maravilhoso conto desse maravilhoso autor, que vocês encontram no livro: "O Fio das Missangas" - Ed. Companhia das Letras.
Vania Longo - 24/11/2009 - 00h30 - vou dormir com um sentimento melhor do que o que me acordou.

UM SONHO ESTRANHO

Essa música amanheceu em meus sentidos:
"Coração americano,
Acordei de um sonho estranho,
Um gosto vidro e corte
Um saber de chocolate
No corpo e na cidade
Um saber de vida e morte (...)"

Um sonho recorrente, com ladrões que invadem, roubam, ameaçam, acuam...
O escape é certo... depois de muita angústia...
"Até quando esperar... até me ajoelhar, esperando ajuda do divino DEUS!"

Um homem recebe de mim a autorização de ser o companheiro indesejado, o colecionador de ossos, o "Barba Azul", aquele que tanto ama a si mesmo e ama amar as mulheres que odeia e destrói...

Mas eu tenho a chave... um sabor de vidro e corte... e uma coragem que alcança o horizonte içando-me com ela!

"As horas não se contavam
E o que era negro adormeceu
Enquanto se esperava
Eu estava em San Vicente
Enquanto acontecia
Eu estava em San Vicente
Coração americano
Um sabor de vidro e corte."

O que é escuro em nós, vive adormecido e desperta no calar da noite escura!
Acua, engrendra sonhos vampirescos, mas sonhos que ensinam o caminho... presta bem atenção:

"A espera na fila imensa
E o corpo negro adormeceu
Estava em San Vicente
A cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
As mulheres e os homens
Coração americano
Com sabor de vidro e corte."

Algo enegrecido adormece em nós, mas sempre existe a cidade e suas luzes... a claridade, o conhecimento que ilumina mostrando os caminhos!

Vania Longo 23/11/09 - 12h10

sábado, 21 de novembro de 2009

CAT STEVENS - O RETORNO DE ZIRYAB

OS CÂNTICOS QUE ALCANÇAM O SENHOR
As possibilidades de aprendizagens para um humano são ilimitadas, nessa quinta-feira (19/11/09) tive contato com um CD de Cat Stevens, o cantor cotado para ocupar o lugar de John Lennon, após sua morte.
O CD tem o nome de An Other Cup Yusuf, Yusuf Islam é o nome adotado por Stevens, depois que converteu-se ao islamismo, atitude essa que causou muita polêmica, mas cada homem decide os caminhos que deve trilhar... nesse caminho intuiu proximidade com sua essência - essa é uma busca que justifica o propósito da existência.
Nesse CD ele grava a música Dont'T Let me be Misunderstood que fez sucesso nos anos 70 início de 80 na voz do conjunto Santa Esmeralda.
No meio do encarte do CD tem uma gravura com a legenda: "The Return of Ziryab" - Ziryab, foi discípulo do Ishaq-al-Mawsili (músico da corte do Califa Harun al-Hashid), foi obrigado pelo próprio mestre a abandonar Bagdá com medo de tomar o cargo. Esse superou em fama seu instrutor e viajou para a Espanha em 821 D.C. , onde o príncipe Abdal Rahrnan II fez questão de convidá-lo para ser o músico da corte...
Na contra capa do CD - existe uma pequena história, um conto - que é conhecido como "Uma xícara de chá":
"Um mestre espiritual recebe um professor universitário que veio lhe inquirir sobre os mistérios da vida. Este iniciou um longo discurso sobre suas dúvidas.
O mestre preparava o chá. Serve o chá enquanto o professor continua sua explanação, mas não o interrompe com suas opiniões. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda. O professor, vendo o excesso de derramando, não pode mais se conter e disse:
"- Está muito cheia, não cabe mais chá."
" Como essa xícara, disse o mestre, você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu demonstrar-lhe os mistérios da vida sem primeiro esvaziar sua xícara?"
Cabe aqui uma pergunta: como está sua xícara? Vazia ou cheia?
Com estaria a de Cat Stevens quando busca esse caminho?
Sabemos que essa busca é movida quando nos sentimos vazios, esvaziados com nossos próprios saberes. Esses saberes abarrotam a mente, distanciam o coração e fazem com que o corpo sinta o peso de um enorme fardo, que visivelmente não está lá, mas a sensação de pesar sim... então enquanto não esvaziarmos "nossa xícara", não há espaço para mais nada, muito menos para o novo quiçá o que vem renovar nosso espírito cansado com tanta grosseria de "alimentos" terrenos, mundanos, materiais, ilusão... ilusão... ilusão... ficamos "iludidos com a ilusão" e seguimos até deparam0-nos com a exaustão e parar... prostra-nos diante de alguma doença, mal-estar... que grita o quanto está insustentável... a "parada" se faz necessária!
Que enfado! Quanto suspirar um ar que já não renova mais as forças...
Vania Longo

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

MITOLOGIA CHINESA

PAN GU - O CRIADOR DO UNIVERSO
Na semana passada assisti a uma palestra sobre Educação na China, o apresentador ao historiar brevemente aquela nação, contou esta história, que eu particularmente, como contadora de histórias, amei!
"Há muito e muitos anos atrás, antes do princípio de céu e da terra, o Universo constituía uma confusa massa negra que se assemelhava a um grande ovo, dentro do qual se encontrava em crescimento e dormia a sono solto um gigantesco embrião, chamado Pan Gu.
Passados cerca de 18 mil anos, Pan Gu começou a acordar. Quando finalmente, abriu os olhos e se pôs a olhar em volta, descobriu que tudo era tão negro que não conseguia distinguir nada. Isto o aborreceu muito, tanto que, acabando por ficar enraivecido, abriu a palma da sua enorme mão e, brandindo o seu possante braço, desferiu um violento golpe na confusão negra que o rodeava.
Craque! O ovo estalou com um colossal estrondo, fragmentando-se a negritude que se encontrava estática e condensada nele há centenas de milhares de anos. Na sucessão deste acontecimento, os elementos que eram mais leves subiram lentamente para as alturas e dispersaram-se gradualmente, acabando por se transformar no azul do céu, enquanto que os mais pesados e turvos desceram vagarosamente para as profundezas, transformando-se na terra. De pé, entre o céu e a terra, Pan Gu respirou, então, profundamente, sentindo-se agora muito à vontade e prazenteiro.
O céu e a terra estavam finalmente separados, contudo, Pan Gu, tendo receio de que eles viessem a juntar-se de novo, resolveu sustentar o céu com seus braços levantados, calcando firmemente a terra com os seus pés. Entretanto, o corpo de Pan Gu crescia tão rapidamente que atingia em média três metros por dia, e o céu e a terra distanciavam-se, assim, quotidianamente, cerca de três metros. Passados 18 mil anos, o céu tinha atingido colossais alturas e a terra tinha se tornado extremamente compacta. Entretanto, por mais estranho que possa parecer, Pan Gu tinha crescido descomunalmente. Mas, afinal, qual era agora a altura de Pan Gu? Dizia-se que tinha ultrapassado 45 mil quilômetros. Tinha-se realmente transformado num extraordinário gigante que tocava o céu com a cabeça e tinha os pés firmemente assentes na terra.
Fora justamente graças à força divina de Pan Gu, que o céu e a terra tinham sido criados, e era aagora devido à sua interposição, que estes se mantinham separados, não havendo jamais o perigo de virem a juntar-se de novo. Se bem que a original confusão negra tivesse desintegrado completamente e não fosse mais uma memória do passado, Pan Gu, tinha ficado tão exausto na sua grandiosa obra de criação, que não tardou a morrer de cansaço.
Após a criação do céu e da terra, Pan Gu tinha imaginado poder vir a criar um brilhante e esplendoroso mundo sobre o qual pairassem o sol e a lua, revestido por montanhas, rios e toda uma variedade de coisas, habitados pelos homens e demais seres vivos. Infelizmente, devido à sua morte prematura, não pode realizar esse seu grandioso plano, mas, antes de dar seu último suspiro, ainda teve alento para metamorfosear partes do seu corpo moribundo.
O seu hálito transformou-se em brisa, nas nuvens e nos nevoeiros do céu, e a sua voz no estrondo dos trovões.
O seu olho esquerdo transformou-se no sol resplandecente que ilumina a terra, o seu olho direito na lua brilhante, e os seus cabelos e bigodes na minada de estrelas do firmamento.
Os seus quatro membros e tronco transformaram-se em cinco maciças montanhas - quatro perdendo-se nas extremidades de leste, oeste, sul e norte do planeta, situado no centro do universo.
O seu sangue transformou-se em impetuosos rios que passaram a sulcar a crosta terrestre, e os seus tendões, em caminhos que intercomunicam todos os pontos do globo.
Os seus músculos transformaram-se em terras férteis, e os seus dentes, ossos e tutano, respectivamente, em pérolas, jade e inesgotáveis recursos minerais subterrâneos.
Os pêlos do seu corpo transformaram-se na relva e nas árvores que abundam, disseminadas por todo o mundo, e o seu suor, na chuva e na garoa que são o alimento de todas as plantas.
Em resumo, se bem que a criação do universo se devesse inteiramente aos esforços divinos e ao espírito de abnegação do gigante Pan Gu, a maravilhosa variedade, exuberante riqueza e íntima beleza deste mundo, são produtos do seu corpo.
Conta-se ainda que a raça humana gerou-se a partir da sublimação da alma do grande gigante, o que significa serem todos os serem humanos descendentes de um antepassado comun: Pan Gu. Não é de estranhar que a humanidade, enquanto espírito do universo, tenha sido capaz de - graças à sua superioridade - controlar tudo quanto existe na superfície da terra, de arrasar montanhas, de modificar o curso de rios e mesmo transformar a Natureza de uma maneira mais benéfica, duradoura e propícia aos próspero futuro de todos os seres humanos."
Um mito chinês sobre a criação, a gênese do mundo, da humanidade, com um final em nada constatado, distante do maravilhoso mundo mitológico que previa prosperidade. Infelizmente a humanidade vem destruindo a Natureza e o próprio espírito gigantesco e de transformação generosa e abundante de Pa Gu, como todo ser divino, ele deve estar assistindo a derrocada, e talvez se perguntando: - "O que eu Fiz?". Mas é certo que todo ser divino tem um propósito para sua criação, qual será o de Pa Gu?
Arrisquem seus palpites, eu gostaria imensamente de ver as hipóteses que aventam!
Animem-se, escrevam aqui nos comentários.
Abraços
Vania 19/11/2009 - 1h06