quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NÃO AOS E-MAILS COM ANIMAIS MALTRATADOS

PARA QUE MULTIPLICAR A DOR PELA REDE WWW?
Escrevi esse texto e o "perdi" com a queda de energia, lamentei, mas escrevi o texto que segue. Ao verificar os arquivos descobri que esse estava salvo em rascunho. Então temos duas leituras em dois momentos distintos sobre a mesma situação.

Sei que quem envia e-mail com animais em sofrimento, pode ter a intenção de "ajudar", mas deve haver outro jeito de parar com a barbárie...


Não vou aqui me arvorar em dar receitas, mas penso do alto dos meus 47 anos que o gosto mórbido pela dor e sofrimento é antigo e é mais humano do que gostaríamos ou pensamos.


Sei também que o negativo está impregnado principlamente na mente, nos pensamentos e é bem difícil nos desvencilharmos dele.


Não custa tentar... diga não, evite, substitua em você tudo que é tragado pela força da gravidade, é uma luta, mas quem disse que viver é fácil, viver como humano na excelência que guarda essa palavra então... nem se diga!


Esta página de hoje foi motivada por um e-mail que recebi com um cão nadando ensanguentado e os "humanos" fotografando, "registrando o momento" não sei para que nem por que!


O que fica em meu sentimento, um peso, um pesar, um desmantelo que causa déficit energético.


Busquei em Fernando Pessoa algo que pudesse aplacar essa sensação medonha:


"O sono que desce sobre mim,

O sono mental que desce fisicamente sobre mim,

O sono universal que desce individualmente sobre mim -

Esse sono

Parecerá aos outros o sono de dormir,

O sono da vontade de dormir,

O sono de ser sono.


Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:

É o sono da soma de todas as desilusões,

É o sono da síntese de todas as desesperanças,

É o sono de haver mundo comigo lá dentro

Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.


O sono que desce sobre mim

É contudo como todos os sonos.

O cansaço tem ao menos brandura,

O abatimento tem ao menos sossego,

A rendição é ao menos o fim do esforço,

O fim é ao menos o já não haver que esperar.


Há um som de abrir uma janela,

Viro indiferente a cabeça para a esquerda

Por sobre o ombro que a sente,

Olho pela janela entreaberta:

A rapariga do segundo andar de defronte

Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.

De quem?,

Pergunta a minha indiferença.

E tudo isso é sono.


Meu Deus, tanto sono!...

Estou tonto,

Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,

Ou de ambas as coisas.

O que sei é que estou tonto

E não sei se bem se me devo levantar da cadeira

Ou como me levantar dela.

Fiquemos, nisto: estou tonto.


Afinal!

Que vida fiz eu da vida?

Nada.

Tudo interstícios,

Tudo aproximações,

Tudo função do irregular e do absurdo,

Tudo nada.

É por isso que estou tonto...


Agora

Todas as manhãs me levanto

Tonto...


Sim, verdadeiramente tonto...

Sem saber em mim e meu nome,

Sem saber onde estou,

Sem saber o que fui,

Sem saber nada.


Mas se isto é assim, é assim.

Deixo-me estar na cadeira,

Estou tonto.

Bem, estou tonto.

Fico sentado

E tonto,

Sim, tonto

Tonto...

Tonto."
Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.
Vania Longo - 26/11/2009

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