PARA QUE MULTIPLICAR A DOR PELA REDE WWW?
Escrevi esse texto e o "perdi" com a queda de energia, lamentei, mas escrevi o texto que segue. Ao verificar os arquivos descobri que esse estava salvo em rascunho. Então temos duas leituras em dois momentos distintos sobre a mesma situação.Sei que quem envia e-mail com animais em sofrimento, pode ter a intenção de "ajudar", mas deve haver outro jeito de parar com a barbárie...
Não vou aqui me arvorar em dar receitas, mas penso do alto dos meus 47 anos que o gosto mórbido pela dor e sofrimento é antigo e é mais humano do que gostaríamos ou pensamos.
Sei também que o negativo está impregnado principlamente na mente, nos pensamentos e é bem difícil nos desvencilharmos dele.
Não custa tentar... diga não, evite, substitua em você tudo que é tragado pela força da gravidade, é uma luta, mas quem disse que viver é fácil, viver como humano na excelência que guarda essa palavra então... nem se diga!
Esta página de hoje foi motivada por um e-mail que recebi com um cão nadando ensanguentado e os "humanos" fotografando, "registrando o momento" não sei para que nem por que!
O que fica em meu sentimento, um peso, um pesar, um desmantelo que causa déficit energético.
Busquei em Fernando Pessoa algo que pudesse aplacar essa sensação medonha:
"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim -
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei se bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos, nisto: estou tonto.
Afinal!
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto...
Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto...
Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.
Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto
Tonto...
Tonto."
Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.
Vania Longo - 26/11/2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário