domingo, 8 de novembro de 2009

CORPO - ESSÊNCIA - PERSONALIDADE

Um dos mestres ao qual presto reverência pela profundidade dos ensinamentos de sua escola viva é George Ivanovich Gurdjieff.
Participei por 4 anos do Grupo Gurdjieff de S. Paulo e é um trabalho que marcou fundo em mim... tenciono voltar a qualquer hora; pois não tenho disciplina para realizar sozinha o trabalho sobre mim.
Em agosto de 1922 em Paris - Gurdjieff falou aos seus alunos acerca de corpo - essência - personalidade, vou transcrever trechos a seguir:
"Quando o homem nasce, três máquinas distintas nascem com ele e continuarão a se desenvolver até a sua morte. Essas máquinas não têm nada em comum entre si: são nosso corpo, nossa essência e nossa personalidade. A formação delas não depende em nada de nós. O futuro desenvolvimento de cada uma delas depende dos dados que o homem traz em si e dos dados que o cercam, tais como o meio, as circunstâncias, o modo de vida, etc. Para o corpo, esses dados são a hereditariedade, as condições geográficas, a alimentação e o movimento. Eles não afetam a personalidade. Durante a vida de um homem, a personalidade se constitui exclusivamente a partir do que ele ouve e do que ele lê.
A essência é puramente emocional. É, antes de tudo, o resultado dos dados hereditários que precedem a formação da personalidade e, mais tarde, unicamente o resultado da influência posterior das sensações e dos sentimentos no meio dos quais o homem vive, se desenvolve.
O desenvolvimento das três máquinas se inicia desde os primeiros dias de vida. Todas três se desenvolvem independentemente uma das outras. Pode ocorrer, por exemplo, que o corpo comece sua vida em condições favoráveis, num terreno sadio e, consequentemente, se mostre corajoso; mas isso não significa necessariamente que a essência do homem em questão seja semelhante. Nas mesmas condições, a essência pode se revelar fraca e covarde. Um homem pode ter um corpo corajoso contrastando com uma essência pusilânime. O desenvolvimento da essência não segue necessariamente o desenvolvimento do corpo. Um homem pode ser muito forte e saudável e, no entanto, ser medroso como um coelho.
O centro da gravidade do corpo, sua alma, é o centro motor. O centro de gravidade da essência é o centro emocional e o centro de gravidade da personalidade é o centro intelectual. A alma da essência é o centro emocional. Do mesmo modo que um homem pode ter um corpo cheio de saúde e uma essência covarde, a sua personalidade pode ser ousada e a sua essência temerosa. Tome, por exemplo, um homem sensato. Ele estudou, sabe que podem acontecer alucinações e sabe também que elas não são reais nem podem ser. Em sua personalidade, não as teme, mas a sua essência mesma tem medo delas. Se a sua essência assistir a um fenômeno desse tipo, não poderá deixar de ficar apavorada. O desenvolvimento de um centro não depende do desenvolvimento de um outro centro, e um centro não pode transmitir o seu material a outro.
É impossível dizer categoricamente que um homem é isso ou aquilo. Um dos seus centros pode ser ousado, outro tímido; um pode ser bom, outro mau, um pode ser cheio de sensibilidade, outro grosseiro; um dará de bom grado, outro hesitará em dar ou se mostrará totalmente incapaz disso. Por essa razão, é impossível dizer: bom, corajoso, forte ou perverso.
Como já o dissemos, cada uma dessas três máquinas representa a seu modo a cadeia inteira, o sistema total em sua relação com a outra ou com a terceira.
Por si mesma, cada máquina é muito complicada, mas é muito simples colocá-la em funcionamento. Quanto mais complicadas forem as peças da máquina, menos numerosas serão as alavancas de comando. Entretanto, o número dessas alavancas pode variar de uma máquina pra outra, havendo mais em uma, menos em outra.
Durante a vida, uma máquina pode formar muitas alavancas para ser posta em funcionamento, enquanto outra será comandada por um pequeníssimo número delas. O tempo previsto para a formação dessas alavancas é limitado. Esse tempo depende por sua vez da hereditariedade e das condições geográficas. Em média, essas alavancas se constituem durante sete ou oito primeiros anos. Depois, até os quatorze ou quinze anos, ainda podem sofrer modificações. Mas, após dezesseis ou dezessete anos, nenhuma alavanca pode mais ser formada ou modificada. Isso significa que, a partir de então, só agirão as alavancas que foram constituídas anteriormente. Tal é a ordem normal das coisas na vida corrente, e de nada valerá o homem se fatigar e se esfalfar, pois ele não mudará nada disso. E isso é verdadeiro até mesmo no que se refere à sua capacidade de aprender. Só podemos aprender coisas novas até os dezessete anos. O que se pode aprender depois é só aprender entre aspas, isto é, algo pura e simplesmente requentado. à primeira vista, isso pode parecer difícil de compreender.
Cada homem com as suas alavancas depende da hereditariedade e do lugar, do círculo social e das circunstâncias em que nasceu e cresceu. O trabalho dos três centros, ou "almas", é semelhante. A estrutura deles é diferente, mas as manifestações são as mesmas.
Tomemos o exemplo do corpo, a máquina que nos é mais acessível.
Quando o homem nasce, seu cérebro é completamente virgem. É como uma matriz de gramofone; tem a propriedade de gravar tudo. No início, e até três meses, é muito sensível, após quatro meses, é menos sensível. No começo, até o ruído da respiração pode ser percebido; uma semana mais tarde, mal se pode ouvir um cochicho. É isso mesmo que acontece com o cérebro humano. De início, ele é muito receptivo: cada novo movimento, choro, grito, riso, tosse, é registrado. Em cada pessoa isso se faz de maneira diferente, subjetiva. Com o tempo, a sensibilidade do cérebro diminui cada vez mais e ele acaba por perder completamente essa faculdade. De modo que a inscrição de novos movimentos, de novas "posturas", cessa inteiramente. Aquilo que teve tempo de se inscrever permanece como um repertório de "posturas" para toda a vida. No fim das contas, um homem disporá de numerosas atitudes, e outro apenas de poucas. Por exemplo, um homem pode ter adquirido cinquenta e cinco atitudes durante o período em que tinha a possibilidade de registrá-las, ao passo que outro, vivendo nas mesmas condições, terá adquirido duzentos e cinquenta. Essas atitudes, isto é, essas alavancas, se constituem em cada centro de acordo com as mesmas leis e aí ficam para o resto da vida. O seu número é limitado; assim, seja o que for que um homem possa fazer, utilizará sempre as mesmas atitudes. Qualquer que seja o papel que queira representar, ele se servirá, de uma combinação das atitudes que já possui, pois nunca terá outras. Na vida comum, não pode haver novas atitudes.
De que modo as posturas, as alavancas põem em movimento um centro, isto é, como um centro se manifesta?
Continuarei... Vania 09/11/2009 - 00h01.

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