sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MENSAGENS NA REDE ANIMAIS VIOLENTADOS

O GOSTO MÓRBIDO DO HUMANO
Quando recebo mensagens com massacres, violência e agressividade, algo racional em mim entende que alguns se preocupam e intentam parar com atitudes tão hediondas, outro lado recepta e é afetado, pois é da ordem do afetivo, algo que não controlamos.
Por isso sabiamente os ensinamentos das tradições dizem que não devemos nos expor a cenas e ou filmes de violência, pois como humanos já tendemos grandemente ao pessimismo, não precisamos nenhuma dose suplementar desse alimento nocivo.
O sentimento que me afeta, causa um pesar e o corpo pesa, o pensamento fica lento, letárgico, fico com as imagens polulando minha mente por um bom tempo... e não canso de me perguntar - por que? Por que fazem, por que vemos, por que nos impressionamos...
Busco rebater a sensação, segundo a sabedoria da homeopatia, igual cura igual. Então procurei em Fernando Pessoa algo que aplacasse a morbidez:
"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim -
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos, nisto: estou tonto.
Afinal
Que vida afiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto...
Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto...
Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.
Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.
Fernando Pessoa - Ficções do Interlúdio/4 - Poesias de Álvaro de Campos.
A tontura, a vertigem, o distanciar da consciência, o sono, o dormir... essas sensações são acionadas rapidamente diante da violência, do mórbido...
Então para quê ver?
Proponho um zoom no cérebro que busque o horizonte, não é negar a realidade, afinal o que é real?
Vania Longo - 27/11/09 - 23h34

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